Um estudo inovador realizado pela Embrapa está investigando o uso do farelo de mamona destoxificado como substituto do farelo de soja na dieta de bovinos de corte, além de seu potencial para a diminuição da emissão de metano.
A pesquisa acontece em Bagé, na Embrapa Pecuária Sul, em colaboração com a Embrapa Algodão e a Universidade Federal de Santa Maria. O objetivo é avaliar o consumo, a digestibilidade e a segurança do farelo na alimentação dos animais.
Embora a mamona contenha ricina, um componente tóxico, a destoxificação industrial torna o farelo de mamona altamente nutritivo para ruminantes, apresentando um teor de proteína bruta de até 45%, cerca de 10% a mais que o farelo de soja, além de ser uma alternativa mais econômica.
Testes anteriores com pequenos ruminantes mostraram que o farelo de mamona destoxificado não causa efeitos nocivos. No entanto, animais monogástricos, como aves, peixes e suínos, não podem consumir esse coproduto.
Bruna Machado, zootecnista responsável pelo estudo em sua tese de doutorado, afirma que o farelo de mamona está sendo testado para uma introdução segura no mercado pecuário brasileiro. “Nosso objetivo é garantir condições adequadas para a utilização do farelo de mamona nas dietas dos ruminantes, visando a suplementação tanto em pasto quanto em confinamento”, explicou.
Liv Severino, pesquisador da Embrapa Algodão, destaca que os testes com bovinos de corte estão avançando significativamente e geram expectativas positivas na indústria global da mamona. “A Índia é a maior produtora e a China a segunda, e nenhum desses países utiliza o farelo de mamona na alimentação animal. Portanto, este passo que estamos dando é uma inovação mundial”, ressalta.
Metodologia do Estudo
A tese de doutorado intitulada “Uso seguro do farelo de mamona como alimento para animais ruminantes e para a redução das emissões de metano entérico” conta com a colaboração do Laboratório de Pastos e Suplementos da UFSM. O estudo envolve 20 fêmeas da raça Brangus, divididas em quatro grupos, com acesso a diferentes níveis de inclusão do farelo de mamona em substituição ao farelo de soja.
Os animais recebem uma dieta base composta de 1% de concentrado e 2% de pré-secado de aveia, com acesso livre. Os tratamentos variam entre 10%, 20% e 30% de inclusão de mamona destoxificada, além de um tratamento controle, sem adição do farelo.
“Cada animal tem acesso apenas a um dos quatro cochos, controlados por um chip de identificação implantado na orelha, que libera a entrada apenas do animal cadastrado”, explica Bruna.
Além dos benefícios nutricionais, o estudo também investiga a redução da produção e emissão de metano entérico pelos bovinos de corte. Essa é uma preocupação crescente, visto que o metano é um gás significativo no contexto do aquecimento global. “Com um dos maiores rebanhos bovinos do mundo, o Brasil pode cumprir compromissos internacionais de redução de emissões por meio de dietas mais eficientes”, conclui Bruna.
Assim, a nutrição animal se apresenta como uma ferramenta promissora para diminuir as emissões de metano e contribuir para práticas pecuárias mais sustentáveis.
Comentários: